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Etecetera


O amor é um algo assim que eu não sei. É um tudo, um tanto, uma condição de se estar eternamente vivo. É a parte, a fatia, o conjunto deliberado de homem, mulher, gozo, reentrância, lampejos e tropeços. É a unanimidade, o trepidar de esperança, a compilação de malícia. É o começar recomeçando, a descoberta, o fazer ser, o ser para fazer. É o crescer, o maturar, o consolar de pares em trilhos de antigos passadores. Não há portas para bater, apenas a rua, comprida e larga para seguir.

O amor? Imagino eu, e anoto com a percepção que me cabe ter do pequeno grandioso, que é o tocar em êxtase, mesmo que não se saiba. Em súmula, nada disso dá-se como conclusão. Consta-se tão somente o ter-se em vista: o atravessar da retina espalmada pelo embalo da tal linguagem, mesma em todos os seus gestos, sentidos e filosofias. É um estar para mais do que o além, aqui ou em qualquer estância. É um apegar-se, um aconchego, um dedilhar de sândalo em carne, vísceras e fôlego. É a idéia explícita do auge, do brilho, do embevecer-se despido de nós, tranças, cancelas: é a forra!

Porque amar é o entendimento, a noção lacônica do pouco em tormento, do bocado em múltiplo e metafórico conjugar de ambos em diálogo. É um qualquer de pontos, pausas e passos num compasso circular de amparo e cadência. É a mágica, o contorno de matizes em graduação intercambial de plurais. É um deixar-se ir e vir de rasuras e sossego, de fábulas em êxodo e para isto ainda é pouco. É um abrir de olhos que só se tem quando se ama.

Tenho dito que o amor, este, de súbito derrama-se por sobre um aprender diluído em perseverança cotidiana, como quem passa a mão por dentro e vê-se maior, incólume, fértil. É um entregar-se em sintonia ao outro. É a partida, o regresso, um soltar-se inteiro num compartilhar de braços em rompante de minúsculas e maiúsculas. É a universalidade de quem e para quê. É lançar-se em desafio, colocar-se em ritmo, conduzir-se em movimento íntimo de expressão, desfazendo-se das vestes vagarosamente ao sabor dos gostos, dos cheiros e da epiderme. É um estar em casa, um reparar-se bem, um contar de dias e de noites em suor lascivo de beijos, abraços, sussurros, calores e misturas onde demais nunca é o suficiente.

Para o amor, a divisão fatorial de tons em revelação deferida das palavras em cuidado; o botar-se a cabo ou rolar-se em parábola, haja cantiga ou dissonância: deixa estar. E o que vier, para lá um tanto adiante, que apareça se assim o desejar. Que seja! O amor… ah, o amor! Sobre ele, como eu disse, não sei. Quem souber, que se sente ao lado meu e disserte a seu respeito.

(Carolina Pinheiro) 

Sim... e o que seria uma amizade sem amor? 

Comentários

  1. Você é uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida, agradeço aos deuses por tela perto de mim!!!

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    1. Sim, eu estou e estarei ao seu lado sempre; o amor é incondicional.

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